Cid Gomes: "Lula não foi correto conosco"
A eleição deixou graves sequelas na relação do PSB com o PT. Ainda assim, o governador cearense quer que seu partido apoie a reeleição de Dilma
A mágoa do PSB com o PT é mais visível no Ceará do
que em qualquer outro estado. O governador Cid Gomes elegeu o desconhecido
sanitarista Roberto
Cláudio como prefeito de Fortaleza. Derrotou o candidato da prefeita
Luizianne Lins (PT), aliada convertida em desafeto, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, até então considerado imbatível no Nordeste. Foi uma vitória amarga
para Cid e seu irmão Ciro, aliados de primeira hora do PT. Filhos de um defensor
público e uma professora, eles não esquecem as acusações de ser oligarcas,
coronéis e de só se importar com pobres na hora da eleição – esta última feita
por Lula. Mesmo decepcionados, Cid diz que ele e Ciro apoiarão a reeleição da
presidente Dilma Rousseff em 2014.
ÉPOCA – O PSB venceu o PT em todas as disputas importantes de que
participou nesta eleição: Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Campinas. O PT
subestimou seu aliado histórico?
Cid Gomes – Não enxergo nisso uma rivalidade ou uma má relação. O PT é nosso aliado nacional. O que não se pode é achar que somos satélites do PT. Não somos. Temos um projeto de poder próprio.
Cid Gomes – Não enxergo nisso uma rivalidade ou uma má relação. O PT é nosso aliado nacional. O que não se pode é achar que somos satélites do PT. Não somos. Temos um projeto de poder próprio.
ÉPOCA – O senhor está falando da Presidência da República?
Cid – Estou, sim, e digo, para que não me interpretem errado: defendo o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Apoiamos a Dilma em 2010, tivemos um papel importante na eleição dela, participamos de seu governo, e ela vem fazendo uma boa gestão. É natural que apoiemos sua reeleição. Nosso projeto de Presidência deve vir depois.
Cid – Estou, sim, e digo, para que não me interpretem errado: defendo o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Apoiamos a Dilma em 2010, tivemos um papel importante na eleição dela, participamos de seu governo, e ela vem fazendo uma boa gestão. É natural que apoiemos sua reeleição. Nosso projeto de Presidência deve vir depois.
ÉPOCA – O PSB compartilha sua
opinião?
Cid – Não posso dizer. O partido não deliberou sobre o assunto. Posso dizer que (o presidente do partido e governador de Pernambuco) Eduardo Campos declarou que a eleição de 2014 deve ser tratada em 2014.
Cid – Não posso dizer. O partido não deliberou sobre o assunto. Posso dizer que (o presidente do partido e governador de Pernambuco) Eduardo Campos declarou que a eleição de 2014 deve ser tratada em 2014.
ÉPOCA – Então, Campos pode disputar o Planalto em 2014?
Cid – Acho que ele deve aguardar 2018. É verdade que Eduardo é um grande quadro, bem preparado e o governador mais popular do Brasil. Também é claro que o PSB foi o partido que mais saiu fortalecido das urnas. É o que mais tem prefeitos de capitais, e capital é muito importante. Governa quase metade da população do Estado. Agora, eleição municipal é uma questão local. Não enxergo seus efeitos no plano estadual, muito menos no nacional. O PSB deve apoiar a reeleição de Dilma e, em 2015, devolver os cargos que tem no governo federal. Sem isso, será difícil mostrar a diferença entre nossa forma de governar e a deles. Não faz sentido e não é correto participar do governo de outro partido e, depois, lançar candidatura contra esse mesmo partido.
Cid – Acho que ele deve aguardar 2018. É verdade que Eduardo é um grande quadro, bem preparado e o governador mais popular do Brasil. Também é claro que o PSB foi o partido que mais saiu fortalecido das urnas. É o que mais tem prefeitos de capitais, e capital é muito importante. Governa quase metade da população do Estado. Agora, eleição municipal é uma questão local. Não enxergo seus efeitos no plano estadual, muito menos no nacional. O PSB deve apoiar a reeleição de Dilma e, em 2015, devolver os cargos que tem no governo federal. Sem isso, será difícil mostrar a diferença entre nossa forma de governar e a deles. Não faz sentido e não é correto participar do governo de outro partido e, depois, lançar candidatura contra esse mesmo partido.
ÉPOCA – O que o PSB ganha esperando até 2018?
Cid – Nosso objetivo é ganhar espaço e estamos conseguindo. Fomos dos poucos partidos que cresceram nesta eleição. Em 2010, fizemos seis governadores. Ainda temos deficiências. Embora isso não seja pré-requisito para ganhar a Presidência, nossas bancadas de senadores e deputados são pequenas.
Cid – Nosso objetivo é ganhar espaço e estamos conseguindo. Fomos dos poucos partidos que cresceram nesta eleição. Em 2010, fizemos seis governadores. Ainda temos deficiências. Embora isso não seja pré-requisito para ganhar a Presidência, nossas bancadas de senadores e deputados são pequenas.
ÉPOCA – Em comício do ex-presidente Lula em Fortaleza, o senhor e
seus irmãos foram chamados de oligarcas e acusados de só se lembrar dos pobres
em tempo de eleição. Como o senhor se sentiu?
Cid –
Foi uma agressão
e uma agressão injusta. Quem esteve com Lula nas horas decisivas fomos nós. Na
eleição de 2002, (a prefeita de Fortaleza) Luizianne (Lins) e
(o candidato petista) Elmano de Freitas vaiaram Lula em praça pública,
porque ele escolheu o José Alencar para vice. No segundo turno daquela eleição,
Ciro (que disputou o primeiro turno) não pestanejou e declarou apoio a
Lula. Em 2005, no mensalão, parte do PT se escondeu. Outra falou em pós-Lula.
Nós fomos à linha de frente defendê-lo. Os votos responsáveis pela reeleição
dele vieram daqui. Fomos para a linha de frente na eleição de Dilma. Lula não
foi correto conosco.
ÉPOCA – Ingrato é uma palavra mais precisa?
Cid – Digo que não foi correto. Antes da eleição, disse a Lula: “Ou a gente encontra um nome capaz de inspirar um sentimento de renovação ou será muito difícil para mim”. Eu queria manter a aliança, mas com outro candidato. Lula disse que era possível e me daria uma posição. Nunca me procurou. Entendi que me deixava à vontade para que o PSB lançasse Roberto Cláudio. Não seria um excesso de gentileza se tivesse me ligado para dizer: “Desculpe, estou sofrendo muita pressão para ir a Fortaleza”. Vindo aqui, faria a defesa de seu candidato sem acusar ninguém. Entendo isso. Também sofro pressões do PSB para bater nos outros partidos. Não é preciso agredir para defender o que se acredita.
Cid – Digo que não foi correto. Antes da eleição, disse a Lula: “Ou a gente encontra um nome capaz de inspirar um sentimento de renovação ou será muito difícil para mim”. Eu queria manter a aliança, mas com outro candidato. Lula disse que era possível e me daria uma posição. Nunca me procurou. Entendi que me deixava à vontade para que o PSB lançasse Roberto Cláudio. Não seria um excesso de gentileza se tivesse me ligado para dizer: “Desculpe, estou sofrendo muita pressão para ir a Fortaleza”. Vindo aqui, faria a defesa de seu candidato sem acusar ninguém. Entendo isso. Também sofro pressões do PSB para bater nos outros partidos. Não é preciso agredir para defender o que se acredita.
ÉPOCA – O PT só ganhou a eleição numa das nove capitais do Nordeste.
Lula foi o grande derrotado?
Cid –
Não colocaria assim. O PT tinha
duas capitais na região: Fortaleza e Recife. Foi mal nas duas administrações.
Aconteceu o mesmo com gestões mal avaliadas de outros partidos. Em Natal, a
prefeita (Micarla de Souza, do PV) nem concorreu. Em São Luís, o
prefeito do PSDB (João Castelo) perdeu. Em Teresina, o do PTB
(Elmano Férrer) também. Lula ganhou a eleição onde ele teve o cuidado
de ter um bom candidato, como em São Paulo. Aonde ele foi por solidariedade ao
PT ou por sentimento de dívida perdeu. As pessoas foram sábias. Distinguiram
essas situações e escolheram o que era melhor para seu município.
ÉPOCA – Como agiu a presidente Dilma?
Cid –
De forma
republicana. Não tenho reparo a fazer. Pelo contrário, só tenho reconhecimento
pela atitude dela. Quando acabou o primeiro turno, disse isso a ela. No segundo
turno, agradeci novamente. Ela respondeu: “Não poderia ter outra postura, você
me apoiou”. E ainda me pediu o telefone do (prefeito eleito) Roberto
Cláudio.
ÉPOCA – Lula também telefonou para o senhor?
Cid –
Não.
ÉPOCA – O que o senhor pretende fazer em 2014?
Cid –
Cumprirei meu mandato até o último dia. Não disputarei eleição em 2014. Depois,
passarei mais tempo com minha família. Vou trabalhar no Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), em Washington. Pedi ao presidente Luis Alberto
Moreno: “Meu desejo é trabalhar com o senhor”. Ele respondeu: “Não se preocupe,
meu filho”. Então, eu vou.Quando voltar ao Brasil, avaliarei se disputarei outra
eleição. O melhor dos mundos é sair da política sem ser expulso. Sair como saiu
o Pelé: por cima.
ÉPOCA – O senhor está abandonando a vida pública?
Cid –
Não, essa é minha vocação. Ter mandato não é a única forma de servir. O objetivo
do BID é reduzir a desigualdade, melhorar a vida das pessoas, desenvolver as
Américas.
ÉPOCA – O senhor pensa em pedir à presidente Dilma para nomeá-lo
representante do Brasil no BID?
Cid –
Desculpe, estou rindo porque
essa pergunta me coloca numa situação constrangedora. Quanto maior seja meu
espaço, tanto mais eu possa atuar, melhor. O Brasil tem um vice-presidente lá.
Se eu puder ser esse vice, melhor.
ÉPOCA – Se o senhor ficar no cargo até o último dia do mandato,
impede seus irmãos Ciro e Ivo de disputar mandatos federais.
Cid –
Enquanto eu estiver no governo, Ciro só pode disputar a Presidência e a
Vice-Presidência da República. Ivo é deputado estadual e poderia ser reeleito,
mas diz que não quer mais disputar esse cargo. É possível que não haja nenhum de
nós na política em 2015, depois da eleição. Não quer dizer que estejamos
largando a vida pública. Vamos só dar um tempo.