domingo, 9 de fevereiro de 2014



Nossa intenção é criar um 

grande centro no RN”

Publicação: Jornal Tribuna do Norte
»entrevista» Alysson Barros Paolinelli 
presidente do Consórcio Inframérica

Com a conclusão da Arena das Dunas, símbolo da realização da Copa em Natal, os olhos se voltam para o aeroporto governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante. Com 80% das obras concluídas e previsão de início da operação em abril, o consórcio Inframérica, que está construindo e vai administrar o aeroporto, tem um grande desafio: aumentar o número de voos e passageiros depois de dois anos de queda no fluxo de aeronaves em Natal. O consórcio diz já ter encontrado a fórmula. Há um ano à frente da administração do aeroporto de Brasília, sua outra concessão no país, o Inframérica conseguiu atrair 1,6 milhão de passageiros a mais para o terminal e elevar o total de passageiros em 4,5%, quando a maioria dos aeroportos do país – incluindo o Augusto Severo, em Parnamirim - registrou queda no período. Nesta entrevista, o presidente do consórcio, Alysson Paolinelli, fala sobre os planos e desafios para o novo aeroporto potiguar.

Foi divulgado recentemente que os primeiros aeroportos concedidos à iniciativa privada tiveram forte crescimento no número de passageiros em 2013, primeiro ano de sua administração. O aeroporto de Brasília, que é administrado pelo Inframérica, está nessa lista. Como o consórcio conseguiu elevar o número de passageiros, quando na maioria dos aeroportos houve queda?
Há dois aspectos que eu gostaria de esclarecer. O primeiro é que o mercado continua crescendo para o aeroporto de Brasília, e crescendo consideravelmente. No ano passado, o número de passageiros no aeroporto de Brasília subiu 4,5%. Conseguimos atrair 1,6 milhão de passageiros a mais em 2013. Essa foi uma vitória, visto que o aeroporto ainda está em obras. O segundo ponto é a nossa estratégia como Inframérica. Estamos discutindo e negociando com companhias aéreas a criação de novos voos e principalmente no caso de Brasília a potencialização do aeroporto como ‘hub’ doméstico (onde os passageiros desembarcam e são distribuídos, em outros voos, para outros destinos). Estamos discutindo como potencializar o hub. Nosso primeiro ano como administradores do aeroporto de Brasília mostrou que a nossa estratégia foi positiva.

Mas como vocês conseguiram aumentar o número de passageiros, quando muitos outros aeroportos registraram queda?

Pedimos mais voos às companhias aéreas.
DivulgaçãoAlysson Barros Paolinelli é CEO do Consórcio Inframérica desde outubro de 2013. Ele trabalha há 19 anos no setor de logística, acumulando experiências na AQCES Logística S.A., na J.Macêdo Alimentos e na MRS Logística S.A..
Alysson Barros Paolinelli é CEO do Consórcio Inframérica desde
outubro de 2013. Ele trabalha há 19 anos no setor de logística,
acumulando experiências na AQCES Logística S.A., na J.Macêdo
Alimentos e na MRS Logística S.A..

E o que oferecem em troca?
A gente oferece uma boa infraestrutura. Mostramos o projeto às companhias e as possibilidades que existem dentro de uma infraestrutura adequada, capaz de reduzir o tempo de espera dos passageiros, das aeronaves, dos voos. Mostramos que as companhias terão a sua disposição muita tecnologia e que os clientes terão maior conforto.  Estamos desenvolvendo uma política agressiva de conscientização com as companhias aéreas. Isso porque a nossa meta é crescer acima da média do mercado.

Dá para repetir esse resultado no aeroporto governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante?
Acredito que dá para repetir sim esse resultado em São Gonçalo do Amarante. Se nos planejarmos para isso. Em São Gonçalo, o desafio é maior do que em Brasília, porque houve uma redução do número de voos e passageiros em Natal nos últimos dois anos. Isso torna o nosso desafio maior, mas não é razão para desânimo. Nossa ideia é aproveitar o fato de que o consórcio Inframérica possui a concessão dos aeroportos de Brasília e São Gonçalo do Amarante e tentar estabelecer uma conexão direta entre esses dois aeroportos. Acreditamos que mesmo tendo redução de passageiros, com o novo aeroporto, uma nova infraestrutura, e uma forma diferente de atuar, atrairemos voos das companhias nacionais e internacionais.

Que fatores, na sua opinião, são capazes de atrair voos e alavancar o fluxo de passageiros num determinado destino?
Eu diria que é um conjunto de fatores e que a captação de novos voos passa por todos os segmentos da sociedade. Passa pelos políticos, pelas empresas privadas, pelas entidades de classe. Para termos sucesso no lançamento do aeroporto, todo mundo tem que estar de mãos dadas: a Prefeitura, o governo do estado, as companhias aéreas, os operadores do aeroporto.

O setor hoteleiro, as operadoras de turismo, e o próprio consórcio reivindicam a redução da carga de impostos que incide sobre o querosene de aviação como forma de reduzir os custos das companhias aéreas e assim atrair mais voos. A minha dúvida é: dá para atrair voos sem desonerar o querosene de aviação?
Tudo o que conseguirmos fazer em conjunto vai ajudar na estratégia de aumentar o número de passageiros para o aeroporto, principalmente a redução do ICMS do querosene de aviação, que é um   fator importantíssimo para captar mais voos. A redução do ICMS potencializa a capacidade que a gente tem de gerar novos voos a partir de Natal e para Natal. Esse é um trabalho que estamos fazendo junto com a governadora. Estamos tentando convencer o Estado de que essa redução beneficiaria o estado se ela conseguisse sair até a inauguração do aeroporto.

O incentivo só terá efeito, se for concedido antes da inauguração?
Na verdade, o importante é que aconteça, independente do momento. Mas o ideal é que seja concedido antes.

O consórcio apresentou, meses atrás, um estudo no qual mostrava que a redução do ICMS se refletiria num incremento do número de voos e da arrecadação estadual. O estudo chegou até a ser apresentado em audiência pública. O governo já se posicionou quanto ao estudo? Já deu alguma resposta?
Estamos dialogando com o governo do RN.

Há alguma reunião prevista para os próximos dias?
Na verdade, nossas conversas tem sido constantes. O governo afirmou que faria um estudo. Estamos aguardando o resultado desse estudo para os próximos dias.

Há uma previsão para ele ficar pronto?

Não saberia dizer.

Li no Valor Econômico que as empresas que administram os três aeroportos privatizados querem mudar os contratos de concessão com o governo federal. Elas estariam se articulando para alterar uma cláusula contratual, que no entendimento delas, poderia brecar o desenvolvimento imobiliário dentro dos complexos aeroportuários e comprometer futuras receitas alternativas. O que que diz dessa cláusula e porque vocês só decidiram alterá-la agora?

A gente não quer mudar o contrato de concessão. A gente quer um esclarecimento sobre esse assunto.

E o que é que tem gerado dúvida?
Prefiro comentar essa questão só depois que tivermos uma resposta. Estamos discutindo esse tema com a Agência Nacional de Aviação Civil e aguardando um posicionamento ainda.

Por falar em desenvolvimento imobiliário dos complexos aeroportuários, quais são os planos para o de São Gonçalo do Amarante?
Fora os terminais, planejamos a instalação de vários empreendimentos dentro do complexo. Já começamos a negociação para a construção de alguns hotéis dentro da área, com redes nacionais e internacionais. Também estamos conversando com a Prefeitura de São Gonçalo para aliar nosso plano estratégico com o plano estratégico da cidade. Também estamos pensando em  atrair indústrias de tecnologia que utilizem o sistema de aviação para o transporte de seus componentes, além da instalação de escolas.  A nossa intenção é criar um grande centro e dar  vida ao complexo.

Desde que se começou a construir o aeroporto, que se comenta a possibilidade de transformá-lo num grande centro de distribuição de cargas e passageiros dentro do país – um hub. Existe essa possibilidade ou haveria empecilhos, como a falta de incentivos para desonerar o querosene de aviação e o fato de companhias aéreas internacionais não poderem receber passageiros em escalas dentro do Brasil?   
Eu não chamaria de  empecilhos, mas de dificuldades. A localização do aeroporto de São Gonçalo não é interessante para transformá-lo num ‘hub’ doméstico, por que ele está longe dos grandes centros. É diferente do caso de Brasília, que está no centro do país. Isso não seria impossível, mas dentro da nossa visão não é tão interessante. A redução dos impostos do querosene de aviação, no entanto, poderia nos ajudar a transformar o aeroporto num ‘hub’ internacional. Nesse caso, a localização é mais interessante, porque ele fica próximo da Europa. Mas para isso seria necessário aumentar o número de voos nacionais chegando e saindo de Natal, para assim conseguirmos captar mais voos internacionais. Nós só conseguimos captar voos internacionais quando há uma grande oferta de voos nacionais e a possibilidade de distribuir os passageiros para muitos lugares no país. A gente está correndo atrás disso. Estamos buscando alternativas para criar mais voos domésticos. Quando falamos em transformar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante num ‘hub’ internacional estamos falando da possibilidade de transformá-lo na porta de entrada dos passageiros vindos do exterior.

Dá para fazer isso sem reduzir o ICMS do querosene de aviação?
Dá, mas é mais difícil, mais demorado e mais complexo.

O Governo do Estado chegou a zerar, em 2012, a alíquota de ICMS para aeronaves que abasteciam em Caicó e Mossoró, para estimular o fluxo de voos nessas duas cidades. O consórcio já havia tomado conhecimento disso?
A governadora falou sobre o tema. Mas, no nosso caso, interessa apenas saber se esse benefício será concedido para o aeroporto em São Gonçalo.

Por que transformar o aeroporto em um “hub” seria bom para o Estado?    
Porque quanto maior o número de passageiros, maior o fluxo de circulando pelo estado. Além disso, as passagens ficariam mais baratas, com o aumento da oferta de voos, e assim atrairia-se mais passageiros.

Mas e se o querosene de aviação não for desonerado, como o consórcio espera que seja?
Essa dificuldade vai ser perene.

Brasília reduziu o ICMS do querosene em 2013. Foi por isso que o número de passageiros no aeroporto de lá, administrado por vocês, subiu no ano passado?
Em Brasília, a alíquota foi reduzida pela metade. Ela passou de 25% para 12% e isso se refletiu não só em mais voos, como numa maior arrecadação em Brasília.