sexta-feira, 16 de março de 2012

ECONOMIA

Funcionários da Coteminas fazem cursos para voltar ao mercado

 
Ricardo Araújo - Repórter/Jornal Tribuna do Norte
Metade do atual quadro funcional da fábrica da Coteminas em São Gonçalo do Amarante - 550 trabalhadores - será dispensada a partir do mês de maio, com o encerramento das atividades dos setores de tecelagem e fiação da unidade. A informação foi dada ontem pelo diretor da fábrica, João Lima, que confirmou também a distribuição da produção da fábrica - que dará lugar a um complexo imobiliário - entre as filiais de Macaíba e Campina Grande (PB). Como forma de compensação, a direção da empresa está oferecendo cursos de aperfeiçoamento profissional gratuitamente aos funcionários que ficarão à disposição de outras indústrias e do mercado de trabalho.
Alberto LeandroO curso de eletricista é um dos oferecidos para os que visam uma vaga no complexo ou fora dele
O curso de eletricista é um dos oferecidos para os que visam uma vaga no complexo ou fora dele

Atualmente, 300 homens e mulheres divididos em 10 turmas aprendem técnicas de vendas (comércio), empreendedorismo (pequenos e grandes negócios) e construção civil (armador de estruturas de ferro, eletricista e pedreiro). Na fábrica da Coteminas em Macaíba foram abertas 80 oportunidades de trabalho na área de tecelagem para os funcionários que se dispuseram a mudar de local de trabalho. Até agora, metade foi preenchida com a relocação de funcionários de São Gonçalo do Amarante.

O processo de demissões na indústria irá atingir trabalhadores com até 12 anos de empresa e muitos deles com mais de 35 anos de idade.

"As pessoas estão sendo treinadas para aproveitarem oportunidades nas empresas que serão parceiras em nosso empreendimento (imobiliário)", afirmou o diretor da fábrica, João Lima. Questionado sobre quais empresas já haviam demonstrado interesse e que possivelmente irão absorver a mão de obra egressa da Coteminas, o diretor respondeu com cautela. "Por questões contratuais, ainda não posso informar quais", resumiu João Lima. Ele confirmou, entretanto, que a maioria da mão de obra masculina será aproveitada nas obras de construção do complexo imobiliário, que incluirá apartamentos, áreas de convivência e até um shopping, orçado em cerca de R$ 1 bilhão.

Nas salas de aula dos cursos ligados à construção civil - pedreiro, armador e eletricista - a predominância é masculina. Carlos Alberto da Silva, tecelão da Coteminas há 10 anos, escolheu o curso de armador de ferro. "É importante este curso que está sendo oferecido. Estou ansioso e confiante pois será um conhecimento a mais", comentou. Indagado sobre a atual situação da Coteminas, Carlos Alberto comentou que a decisão da direção nacional já era esperada desde o ano de 2008. "Muitos já esperavam por isso com a decadência do setor têxtil provocada pela queda nas exportações", analisou.

O diretor João Lima ressaltou que a Coteminas está em contato com outras indústrias para ofertar mão de obra. "Nós oferecemos os profissionais que estão à disposição do mercado e tentamos recolocá-los em outras empresas mesmo antes das demissões", disse.

Aos 47 anos, Izolda Marcelino é uma das trabalhadoras que serão desligadas da indústria têxtil em breve. Ela acredita que as aulas ministradas pela professora Eliane Cabral, sobre vendas, poderão lhe oferecer novas oportunidades. "A gente poderá conseguir trilhar um novo caminho lá fora", comentou. O curso para formação de vendedores tem um mês e meio de duração.

Com a desativação dos setores de fiação e tecelagem, a produção da fábrica de São Gonçalo do Amarante se resumirá aos setores de tinturaria, estamparia e beneficiamento de fios. Não se sabe ainda, entretanto, se a produção nesses outros setores também será desativada para a construção do complexo. A informação não foi confirmada ainda pela empresa.

Atividade têxtil continua sendo o foco, diz diretor

Questionado sobre os motivos da redução e fechamento da maior parte da empresa, o diretor João Lima afirmou que faz parte de uma adequação ao novo mercado consumidor. "O grande negócio da Coteminas continua sendo o têxtil. Mas estamos ampliando com a construção do complexo imobiliário", disse. Lima deixou claro que a relocação da produção para a fábrica de Campina Grande (PB) não tem ligações com possíveis faltas de incentivo fiscal pelo Governo do Estado. "O Governo sempre nos apoiou através dos programas de redução de impostos", comentou, sem detalhes sobre a decisão de levar parte da produção para o estado vizinho.

A empresa ainda não calcula quanto irá gastar em rescisões, mas ressalta que todos os funcionários que serão dispensados receberão os valores referentes às custas rescisórias no ato da demissão.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sindtêxtil-RN), José Nogueira Filho, foi procurado no final da tarde de ontem para comentar a situação dos funcionários que perderão seus postos de trabalho e de que forma o Sindtêxtil poderia ajudá-los. Ele alegou que preferia conceder entrevistas pessoalmente e não comentou o caso por telefone.

Saiba mais
A desativação da unidade, de onde serão demitidos 550 trabalhadores, será necessária para a construção de um complexo imobiliário da Coteminas que deverá englobar um condomínio residencial para 12 mil pessoas, shopping center, hotel com 720 apartamentos, centro comercial, de convenções, de artesanato e teatro. O complexo levará entre três e quatro anos para ficar pronto, com conclusão da primeira fase prevista para até a Copa do Mundo de 2014. O projeto inclui também escola, creche, posto de saúde, biblioteca e parque ecológico. O investimento previsto é de R$ 1,1 bilhão. O complexo deverá gerar cerca de 5 mil empregos diretos na construção e 6 mil diretos na fase de operação.