O legado e os desafios 20
anos após a criação do Real
Publicação: Jornal Tribuna do Norte
Houve um tempo no Brasil em que fazia diferença ir ao mercado pela manhã ou à tarde. A inflação era tanta que, em questão de horas, os preços subiam. A estratégia que permitiu estabilizar a inflação do país de forma permanente foi o Plano Real, que hoje completa 20 anos. Se em junho de 1994, mês anterior à entrada em vigência do plano, a inflação foi de 47,43%, o país chega em maio de 2014 com esse número na casa de 0,46%. E embora a inflação tenha subido nos últimos meses, especialistas garantem: ela está sob controle. Eles também apontam, no entanto, para a necessidade de reformas como forma de o Brasil ganhar um novo impulso econômico.
O Plano Real foi um programa de estabilização econômica que teve como principal objetivo o controle da hiperinflação. Entre outras medidas, o plano criou a Unidade Real de Valor (URV), moeda virtual que serviu para a transição entre o Cruzeiro Real e o Real.
Na avaliação do economista e chefe no RN do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Aldemir Freire, o controle da inflação é o grande legado do plano. “A rigor, o Plano Real já acabou. A lógica do plano já não existe e desde 1999 se adota regimes de meta de inflação. Mas como forma de estabilização de inflação, foi uma estratégia muito bem sucedida”, analisou.
Efeitos
De imediato, os efeitos foram o aumento da renda e do consumo. “Outro elemento importante é que, com o fim da inflação, foi possível que governos e empresas fizessem um planejamento de médio e longo prazo”, explica.
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/RN), Melquisedec Moreira, ressalta que, embora tenha havido uma melhora no início do Plano Real, nos anos seguintes houve diminuição do poder de compra do potiguar.
“O salário mínimo, que é referencia básica para os pisos salariais no RN, durante a década de 1990 até 2002, comprava apenas uma cesta básica. Em alguns meses o salário mínimo era insuficiente para comprar essa mesma cesta básica em Natal”, disse. “Ao mesmo tempo em que debelava a inflação, o modelo gerava efeitos que fragilizavam a economia”, completou.
O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, declarou ontem que, embora o plano tenha proporcionado estabilização, ainda há muito trabalho pela frente, já que o Brasil continua sendo um país de renda média baixa, desigual e com carências. “Temos uma situação fiscal que vem perdendo credibilidade e inflação alta, apesar da retenção de preços. Se não estivesse sendo tabelada, seria provavelmente superior a 7% - número alto apesar de menor do que antes do Plano Real”, disse à Agência Estado. O também ex-presidente do BC, Gustavo Franco, lembrou à Agência que, “passados 20 anos, está na hora de nova onda de reformas porque se esgotou o impulso do crescimento”. “Esse período longo que vivemos descansando de fazer reformas pode ter acomodado as coisas, mas exaurimos as possibilidades criadas pela onda associada ao Plano Real”, disse.
Eraldo Peres/CB/da press
Fernando Henrique Cardoso era ministro da
Fazenda quando o Real começou a ser arquitetado
O Plano Real foi um programa de estabilização econômica que teve como principal objetivo o controle da hiperinflação. Entre outras medidas, o plano criou a Unidade Real de Valor (URV), moeda virtual que serviu para a transição entre o Cruzeiro Real e o Real.
Só para se ter uma ideia, em 1993 a inflação do ano foi de 2.477,15%. Pouco antes da implantação do plano, a inflação de junho de 1994 chegou à casa dos 47,43%. Depois que passou a vigorar, o plano forçou a inflação para baixo. Em julho do mesmo ano, ela alcançou 6,84% e em agosto, 1,86%.
Na avaliação do economista e chefe no RN do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Aldemir Freire, o controle da inflação é o grande legado do plano. “A rigor, o Plano Real já acabou. A lógica do plano já não existe e desde 1999 se adota regimes de meta de inflação. Mas como forma de estabilização de inflação, foi uma estratégia muito bem sucedida”, analisou.
Efeitos
De imediato, os efeitos foram o aumento da renda e do consumo. “Outro elemento importante é que, com o fim da inflação, foi possível que governos e empresas fizessem um planejamento de médio e longo prazo”, explica.
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/RN), Melquisedec Moreira, ressalta que, embora tenha havido uma melhora no início do Plano Real, nos anos seguintes houve diminuição do poder de compra do potiguar.
“O salário mínimo, que é referencia básica para os pisos salariais no RN, durante a década de 1990 até 2002, comprava apenas uma cesta básica. Em alguns meses o salário mínimo era insuficiente para comprar essa mesma cesta básica em Natal”, disse. “Ao mesmo tempo em que debelava a inflação, o modelo gerava efeitos que fragilizavam a economia”, completou.
O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, declarou ontem que, embora o plano tenha proporcionado estabilização, ainda há muito trabalho pela frente, já que o Brasil continua sendo um país de renda média baixa, desigual e com carências. “Temos uma situação fiscal que vem perdendo credibilidade e inflação alta, apesar da retenção de preços. Se não estivesse sendo tabelada, seria provavelmente superior a 7% - número alto apesar de menor do que antes do Plano Real”, disse à Agência Estado. O também ex-presidente do BC, Gustavo Franco, lembrou à Agência que, “passados 20 anos, está na hora de nova onda de reformas porque se esgotou o impulso do crescimento”. “Esse período longo que vivemos descansando de fazer reformas pode ter acomodado as coisas, mas exaurimos as possibilidades criadas pela onda associada ao Plano Real”, disse.